Mais de 300 mulheres jornalistas de 15 países da região participaram da pesquisa realizada pela Federação Internacional de Jornalistas entre setembro e novembro de 2023. Os resultados desse trabalho foram incluídos no relatório
"Situação das trabalhadoras da imprensa na América Latina e no Caribe", que tem como objetivo servir de insumo para o desenvolvimento de soluções coletivas de sindicatos e organizações profissionais que reúnem mulheres jornalistas.
A palavra que define as trabalhadoras da imprensa é "pluriemprego”: quatro em cada dez trabalhadoras da imprensa pesquisadas têm mais de um emprego na mídia, e 66,7% disseram que precisam recorrer a empregos fora do campo do jornalismo para complementar sua renda. Mais de 60% das colegas que responderam à pesquisa são mulheres cabeça de família, ou seja, sua renda é decisiva para sustentar suas famílias. Em termos de salários, a desigualdade no local de trabalho é alarmante: mais da metade das trabalhadoras (52,82%) disse que seus colegas homens recebem salários mais altos pelo mesmo trabalho.
Os problemas no local de trabalho não se limitam apenas a questões econômicas: 59% das mulheres pesquisadas disseram ter sido vítimas de algum tipo de violência por parte de colegas e/ou chefes do sexo masculino, e 55% disseram que seus empregos não têm ferramentas como protocolos ou guias de ação para lidar com essa violência. Além disso, mais de dois terços das trabalhadoras que responderam à pesquisa disseram que foram questionadas sobre seu trabalho de forma diferente dos colegas homens. As agressões não se limitam apenas ao local de trabalho: mais de um terço das jornalistas (38%) sofreu agressões ou ameaças relacionadas a gênero on-line ou nas mídias sociais em relação ao seu trabalho jornalístico.
Como se afirma no relatório, é necessário reconhecer a existência da violência contra as mulheres jornalistas e suas consequências como um problema que afeta a pluralidade de vozes e, portanto, as democracias como um todo. Tanto a mídia quanto as associações e os sindicatos profissionais devem oferecer aos jornalistas espaços de trabalho seguros e ser garantidores de seu desenvolvimento profissional, que é afetado pela autocensura e por outras estratégias adotadas diante dos ataques. Nesse sentido, aumentar a conscientização sobre a natureza pública do problema e enfatizar que não se trata de incidentes isolados - e muito menos "provocados" por jornalistas - é um primeiro passo fundamental para proporcionar uma estrutura de apoio coletivo às trabalhadoras da imprensa.
Esse trabalho, que contou com a colaboração de organizações latino-americanas afiliadas à Federação Internacional de Jornalistas e com o apoio da Union to Union, é um insumo fundamental para a procura de soluções coletivas por todas as organizações sindicais e profissionais da região. Sem espaços de trabalho seguros e remuneração igual para as mulheres que trabalham na imprensa, não pode haver liberdade de expressão.